A MENTE SOB PRESSÃO


A inteligência existente no funcionamento da mente e do corpo é impressionante. Qualquer observador atento e estudioso constata isso com facilidade. No organismo, entre extensos exemplos dessa inteligência atuando para a sobrevivência, é possível citar a febre. Genericamente, a febre é uma elevação da temperatura do corpo, ativada por um mecanismo de defesa do organismo quando há algo de anormal em seu funcionamento.

Pasmem! O aumento da temperatura busca destruir invasores ⸺ geralmente vírus e bactérias ⸺ que ameaçam o funcionamento normal do corpo. Em síntese, uma tentativa de autocura. Por coerência, a mente é regida pela mesma inteligência. Muitos mecanismos defensivos atuam para que a saúde mental seja preservada.

Pensem numa pessoa que comeu ou bebeu demais. Colocou o corpo sob pressão. Este não consegue metabolizar esses excessos. Para manter sua integridade, processa o que pode e o que não pode, expulsa. Neste caso pode ser através de vômitos, diarreias, suor excessivo, o equilíbrio será buscado entre os recursos possíveis.

A mente regida por esta inteligência, também tem seus mecanismos para metabolizar os excessos. Entretanto, esses recursos têm seus limites, caso contrário, não haveria adoecimento mental ou físico. É preciso perceber estas limitações e expandir os recursos mentais para fazer frente às novas exigências, sem adoecer.

Neste entendimento, o que pode representar um excesso de tensão e, portanto, pressão mental? Geralmente tudo que foge de uma certa normalidade e sobrecarrega o psiquismo. Pode ser: doença, desemprego, divórcio, falência, assalto, morte de alguém, ou até algo aparentemente simples para um, mas não para outro que sofre. Uma criança que fica doente porque seu cachorro sumiu, diz sobre o tamanho da sua dor e que precisa de ajuda para metabolizar aquele excesso de pressão mental que a acomete.

Mudanças normalmente envolvem um grau de pressão. Existe a necessidade de mobilizar mais recursos mentais e emocionais para dar conta daquela nova situação. Neste aspecto, existem as mudanças escolhidas pela pessoa como fazer uma faculdade, mudar de país ou aquelas impostas pela realidade, à revelia do nosso desejo.

Ninguém escolheu viver uma pandemia e com ela todas as mudanças bruscas no modo de estudar, trabalhar, se relacionar, comprar, etc. Por isso, o aumento nos casos de ansiedade, depressão e muitos outros problemas que afetaram a saúde mental foi muito elevado. Tudo indica, que as transformações vão continuar ocorrendo em grande velocidade, exigindo mais recursos mentais e emocionais.

As pressões são inevitáveis, o que se observa na saúde mental é o modo como a pessoa metaboliza essas tensões, de modo saudável ou não. Suponha uma pessoa que trabalha numa profissão que não gosta, apenas tolera o trabalho pelo salário. Existe aqui uma insatisfação. Ela olha para isso? Normalmente não, até tem consciência, mas não emprega uma energia suficiente para mudar esta realidade.

Ela apenas equilibra esse desprazer. Como? Normalmente proclama euforicamente, pelas redes sociais ou verbaliza: “sextou”. Porque é no final de semana que ela vai aliviar seu desprazer através da bebida, baladas, maratona de filmes e muitas outras formas de compensação para suportar a próxima semana. Esse mecanismo não resolve o problema, apenas ajuda a pessoa a “não enlouquecer”, a evitar uma pane mental. Isso pode ocorrer com qualquer conflito na vida da pessoa que ela vai empurrando.

Processar de modo saudável a pressão significa encontrar os motivos desta e resolvê-los de modo eficaz, atuando sobre as causas e não apenas recorrendo a paliativos para aliviar a sensação do momento. Em outras palavras, não apenas esvaziar o copo que encheu, mas se perguntar porquê ele encheu, qual a causa. Carl Jung tem um pensamento muito interessante sobre isso, que a dor fala sobre o jeito de ser e de viver da pessoa que está conflitante.


"a depressão é como uma mulher vestida de preto. Se ela aparecer, não se afaste. Convide-a para entrar, ofereça-lhe um assento, trate-a como uma convidada e OUÇA o que ela tem a dizer".


Muitos sofrimentos mal elaborados são deslocados em acidentes, doenças, compulsões, uma vida subdesenvolvida nos aspectos afetivos e financeiros. Apenas aliviar as tensões momentâneas e não resolver as verdadeiras causas equivale a ouvir um sinal de alarme de incêndio e desligá-lo, na ilusão de não entrar em contato com o problema. A psicoterapia se propõe a ajudar neste processo, desenvolvendo novos recursos mentais e emocionais para dar conta, de modo saudável, da complexidade dos desafios.


Adriana Alves de Lima

Psicóloga