DIFÍCIL, FALAR NÃO!


Dificuldade em falar NÃO, para o outro é uma queixa muito comum nas relações humanas. Normalmente, o assunto é abordado de modo muito simplista e raso no senso comum. Logo, em nada resolve o problema.

O embaraço em emitir este comportamento e sustentá-lo não depende apenas de uma simples verbalização, extrapola. Indica o grau de autonomia que o indivíduo construiu no seu amadurecimento emocional. Tem relação com o jeito de ser e de viver da pessoa, em outras palavras, da personalidade.

Falar não, em momentos que isso significa o real desejo da pessoa e ela não consegue por motivos outros, na maior parte do tempo, indica uma dificuldade em estabelecer limites nos relacionamentos. E mais, sustentá-lo mesmo diante da pressão do outro que reage mal quando contrariado.

Analisemos uma situação prática:

Uma amiga convida a outra para sair numa sexta-feira à noite. A amiga convidada está muito cansada, teve uma semana exaustiva e está sem energia para sair, prefere descansar. Não deixa seu desejo claro, arruma uma desculpa, um pretexto, alega que seu carro está na oficina. Prontamente, sua amiga se dispõe a buscá-la. Acuada, acerta o horário para se encontrarem.

Qual a consequência para a moça que não conseguiu falar não para o convite de sua amiga? Sai de má vontade, não faz bem nem uma coisa, nem outra, nem descansa e nem aproveita o passeio.

Psicologicamente, qual o problema? A falta de autonomia. A pessoa se submete a algo indesejado, normalmente por medo: de não ser mais convidada, ser pressionada, etc. Reiterando, o tema abordado diz respeito a uma frequência consistente que a situação ocorre, e não um caso ou outro esporadicamente.

Qual seria um comportamento mais assertivo para a situação?

“Amiga, fico muito feliz com seu convite, é bom saber que deseja minha companhia, mas, hoje estou muito cansada, sem condições, não tenho energia para investir numa boa conversa e descontração. Para ser sincera comigo e com você, hoje não vou, podemos combinar outro dia, se você puder”.

Esse problema acontece em diferentes graus. Atinge aquele que compra um produto porque não conseguiu sair da pressão de um vendedor, até aquele filho que não consegue falar não para os pais que desejam que ele siga uma determinada carreira e isso vai impactar a vida profissional toda dele.

Muitos adolescentes viciam-se em álcool, drogas, cigarros por dificuldade em falar NÃO para os seus “amigos”. Muitas mulheres se contagiam por doenças sexualmente transmissíveis pela dificuldade em falar não para relações sexuais sem preservativos.

Ouvir um não é algo que as pessoas suportam, salvo em relações muito infantis que há represálias. Em síntese, falar não quando necessário, diz sobre o amadurecimento emocional, sobre autoconfiança, autonomia e respeito próprio onde se estabelece aquilo que é permitido e o que não é nas relações sociais.

Adriana Alves de Lima

Psicóloga