POR UMA VIDA MENOS ESTAGNADA


Você conhece alguém que discursa, muito bem, sobre as mudanças que pretende fazer na vida, mas, na prática não as realiza? Pessoas que no final do ano estabeleceram uma série de objetivos, mas nada aconteceu no ano seguinte? É o que mais ocorre na realidade. É necessário entender os motivos desta estagnação para produzir mudanças. Ainda mais hoje onde tudo se modifica com muita rapidez.

As transformações podem ocorrer em dois níveis:

Primeiro, a mudança motivada por uma pressão externa, não houve escolha. A pandemia mostrou isso muito bem. Muitos comportamentos foram modificados nos seguintes aspectos: higienização, relacionamentos, compras, modo de estudar, trabalhar, na dinâmica familiar e social impactada pelas perdas de entes queridos.

Mesmo sob a pressão ambiental, a mudança pode ocorrer de modo saudável, ou não. Por exemplo, com o longo período de isolamento social muitas lojas fecharam, mas muitas progrediram.

Segundo, mudança motivada por uma escolha consciente. Ela também tem uma pressão, mas interna. Necessidade de emagrecer, aumentar a renda financeira, fazer uma faculdade, ter relações afetivas mais saudáveis, morar melhor, etc. Estas normalmente, são as mais negligenciadas. Aqui a pressão é menor. É muito comum as pessoas procrastinarem o emagrecimento, até que fiquem doentes e mesmo neste caso não é garantia que vão mudar o comportamento alimentar que as adoeceram.

As mudanças podem ser boas ou não, esse não é o foco do artigo, a questão é como fortalecer a capacidade de realizar mudanças de modo ativo, uma postura consciente e não reativa pressionada por uma adversidade. Em outras palavras, aumentar a capacidade de escolher e não apenas ser escolhida.

Respondendo a questão suscitada, por que a capacidade de realização é tão baixa comparada aos objetivos desejados? Suponha a seguinte situação: um jardineiro que trabalha numa residência tem muitas ideias de como deixar a casa ainda mais bonita, não apenas sobre o jardim, mas sobre a pintura da casa, a piscina e outros lugares. Ele comenta com o motorista da casa sobre suas ideias e ele também fica bem empolgado. Entretanto, na prática, não ocorre transformação nenhuma. Por quê? Simples, o motorista não tem poder total para realizar as mudanças. Quem manda na casa é o dono, este sim tem o poder de modificar a casa.

A mente humana funciona de modo semelhante. Existe uma parte consciente, racional e uma parte inconsciente, predominante, emocional. Ao estabelecer mudanças se conversa com a parte racional, no exemplo citado, conversa com o motorista, e a parte inconsciente é o dono da casa.

Caso a racionalidade predominasse, não haveria tantos problemas para atingir metas. A pessoa se propõe a fazer um regime e segue rigorosamente, se propõe a guardar dinheiro para comprar uma casa e conquista seu objetivo disciplinadamente, se propõe a fazer um curso online à noite e cumpre, não troca pelo filme ou futebol. Aqui, o desejo de comer alimentos calóricos, gastar o dinheiro no momento e se distrair normalmente vencem pela força do emocional.

Demonstrado que a parte da mente mais inconsciente, mais emocional predomina sobre o racional como conciliar esse conflito de forças para que as mudanças escolhidas de modo consciente se concretizem?

Modificando o conflito que está na contramão do objetivo consciente. Pense em alguém que pode avançar profissionalmente, ganhar mais, expandir e isso não acontece. As metas até são estabelecidas, mas não atingidas.

Ao analisar os conflitos inconscientes é possível constatar que a pessoa tem problemas sérios. Os pensamentos adquiridos na infância sabotam seu progresso consciente. Por exemplo, aprendeu que é necessário ganhar apenas para pagar as contas, mais que isso é ganância; que rico não vai para o céu. Culpa-se quando compra um carro melhor porque seus familiares não têm o mesmo poder de compra. Enfim, uma série de pensamentos e sentimentos conflitantes sobre o dinheiro que  sabotam qualquer possibilidade de expansão. Isso se aplica em todas as áreas da vida: afetiva, sexual, profissional, e outras onde existem dificuldades com mudanças.

Ter consciência destes pensamentos inconscientes, que sabotam o crescimento profissional, afetivo, financeiro permite alterar a mentalidade aprendida na infância, onde a pessoa não tinha o senso crítico desenvolvido para analisar a situação. Apenas absorveu uma mentalidade que, no momento, dificulta seu crescimento.

Hoje, adulta, tem mais recursos mentais para analisar, racionalmente, pensamentos disfuncionais inconscientes que construíram uma mentalidade equivocada e que limita seu crescimento, mas, primeiro precisa perceber quais conflitos inconscientes sabotam sua evolução na área pretendida.

Em síntese, resultados insatisfatórios, em qualquer área da vida, demostram que existem conflitos inconscientes que dificultam o crescimento. Normalmente, as pessoas não sabem disso, elas justificam os baixos resultados de muitas maneiras: “não foi desta vez, não era para mim, não quero mesmo, meu chefe não reconheceu meu valor”, e assim o tempo passa e a estagnação impera. Olha para fora e não para ela mesma, não percebeu que a realidade externa está refletindo seus conflitos internos. A boa notícia é que a mente tem plasticidade e permite mudanças, sempre. Basta a pessoa se colocar neste movimento.


Adriana Alves de Lima

Psicóloga