CAPTURADO POR CONFLITOS EMOCIONAIS ALHEIOS

 


As relações humanas são bem complexas. Existem muitos problemas. Não significa incompreensíveis, como falam os leigos. A mente humana, como tudo na natureza, é organizada. Funciona por leis naturais, e ao compreendê-las tudo tem uma explicação. Racionalmente pode parecer absurdo, mas inconscientemente, faz sentido.

Entender esses mecanismos de “captura” inconsciente é libertador, permite expansão, crescimento, mobilidade, autonomia, qualidade de vida e o que todos querem: conciliar desenvolvimento pessoal e progresso na vida afetiva, saudável e gratificante.

A análise de duas situações diferentes permite facilitar o entendimento desse assunto: mecanismo psicológico de “captura inconsciente”.

Primeira situação: pessoas muito ansiosas, normalmente tem uma necessidade muito grande de falar, o tempo todo.  Isso quando não deslocam a ansiedade para compulsões por compras, comida, bebida e outras. Por questões psicológicas isso acontece, na maioria dos casos, porque existe dificuldade em metabolizar mentalmente as tensões vividas no cotidiano. Resumindo, precisa pulverizar para fora, ou seja, descarregar através da fala para manter o equilíbrio psíquico. Neste caso, com frequência, todos os dias.

Neste funcionamento mental, a fala expressa pensamento muito concreto e descritivo, conta detalhes sobre tudo que aconteceu no trabalho, com a filha, na escola, etc. Por lógica, se alguém precisa falar, vai “escolher” um ouvinte, CAPTURAR para sua necessidade psicológica quem se submeter a este lugar enfadonho.

O ouvinte capturado, geralmente alguém que mora com a pessoa ou com quem se relaciona assiduamente, se cansa, se sente exaurido, mas não entende o que ocorre, apenas sente, pode reclamar mas a situação não muda. O ouvinte muitas vezes tem sua vida prejudicada: precisa estudar, fazer outras atividades e não consegue sair daquele lugar de apenas “depósito das angústias alheias”.

Há casos de pessoas com este funcionamento mental que não aguentam nem esperar a filha, o marido, ou outro capturado fazer primeiro suas atividades, falam enquanto eles tomam banho ou assistem televisão.  O processo é invasivo e opressivo para ambos.

Essa dinâmica não é saudável para nenhum dos dois na relação.  Muitas pessoas passam a vida toda assim, se acostumaram, nem desconfiam da problemática que existe neste funcionamento. Qual o problema? Quem precisa pulverizar sua ansiedade porque não tem recursos emocionais para processar seus conflitos, não sabe disso, é inconsciente e “usa” o outro para se manter compensado, sobrecarregando-o. Em síntese, um não se trata e o outro vive exaurido num lugar que, psicologicamente, não deveria estar porque lhe adoece e mantém o outro adoecido.

Segunda situação: Uma pessoa chega com um carro novo na casa de seus parentes. Um deles diz: “Nossa! Comprou carro novo em plena crise, que ostentação! Diante do comentário, o ouvinte se sente culpado e em desprazer com sua nova aquisição. Muitas crenças ou pensamentos limitantes que bloqueiam o crescimento se constituem assim, a pessoa é punida por progredir e como não entende o que acontece, sofre e reduz sua prosperidade pelo medo do julgamento do outro. Não conseguiu se desgarrar da necessidade da aprovação alheia.

Aqui o sofrimento aconteceu porque o dono do carro novo foi capturado emocionalmente pela reprovação, caso contrário não teria ocorrido efeito algum sobre ele. Teria consciência que não está ostentando, apenas comprou um automóvel que quis e suas condições financeiras permitiram, apenas isso. A crítica recebida fala muito mais dos conflitos do seu parente em lidar com a prosperidade alheia. Pela inconsciência, o capturado pela crítica não percebe e se sente desconfortável por progredir.

É importante compreender que essa captura mental revela bloqueios de ambos ou mais envolvidos na relação, não é um processo passivo. Alguém foi fisgado nessa dinâmica e permaneceu neste lugar, não conseguiu se defender, isso porque veio ao encontro de conflitos emocionais do capturado.

Consciente do que ocorre, normalmente por psicoterapia porque são conflitos inconscientes, começa a transformação. Normalmente é o capturado quem busca tratamento, é ele quem mais sofre, mais se sobrecarrega. E a partir disso, inicia um desembaraçar-se psíquico resolvendo os próprios conflitos do capturado que permitiram sustentar essa dinâmica de relação adoecida, normalmente existente há anos. Em síntese, foi capturado porque também os conflitos do outro encontraram eco nos próprios.


Adriana Alves de Lima
Psicóloga