A IMPORTÂNCIA DA FUNÇÃO PATERNA NA DEPENDÊNCIA EMOCIONAL


Existem momentos muito importantes no desenvolvimento físico de uma criança como falar e andar. Não é diferente na evolução psicológica, entre eles a autonomia, mais especificamente o contrário de dependência emocional. É um processo bem complexo e as chances de ocorrer alguma complicação neste percurso, é bem grande.

Na prática clínica, 90% dos problemas psicológicos dos pacientes concentram-se nesta fase. Os mais comuns: ansiedade deslocada para dependências tais como: cigarro, álcool, consumo compulsivo, comida;  ⸺ problemas de autoestima: dificuldade em dizer não, colocar limites nas relações, relacionamentos abusivos, medo de fazer escolhas, em sintonia com aspirações próprias e não apenas satisfazer desejos alheios; dependência financeira, emocional; entre outros.

Nos primeiros seis meses de um bebê, ele tem uma relação com a mãe chamada de dependência absoluta. Ele precisa totalmente dos cuidados maternos para sobreviver. A natureza humana é tão perfeita que faz parte do instinto materno esta fase de relação simbiótica com o bebê. Entenda bem, é UMA FASE.

A afinidade entre eles é tão grande que a mãe sabe o significado do choro da criança: fome, dor ou medo. Esta sintonia permite que ela supra com precisão as necessidades físicas e psicológicas do bebê, desse modo ele sobrevive. Durante os primeiros 6-8 meses mãe-bebê são praticamente “um só”.

No desenvolvimento normal, o bebê vai evoluindo em sua autonomia, o período mais importante ocorre até os 4 anos de idade. Em síntese, essa simbiose na relação entre mãe e filho é uma fase, em seguida, esse “grude” precisa ser modificado progressivamente, muda a qualidade da relação afetiva entre os dois. Muitos problemas começam aqui, por conflitos emocionais próprios, muitas mães se fixam na simbiose e não conseguem se separar da criança, dentro do esperado, desse modo ela fica capturada inconscientemente à necessidade da mãe, logo, sua evolução para o estágio seguinte é prejudicada.

Neste momento, a função paterna é muito importante e faz a diferença entre estagnar ou avançar. É o terceiro que oxigena a relação misturada, rompe instintivamente a simbiose entre a mãe e a criança, de modo saudável. Normalmente é o pai quem chama a atenção da mãe por carregar a criança no colo por muito tempo, por não colocar no carrinho, que não permite que a criança durma no quarto dos pais se ela já pode dormir no próprio quarto.

Função paterna não quer dizer necessariamente um atributo do pai. Deveria ser. Mas, se ele não teve essa função bem estabelecida em seu desenvolvimento psicológico não conseguirá oferecer aos seus filhos. Neste caso, o pai está presente na criação do filho, mas ausente na função paterna. Por isso, tem uma presença apática nesta fase, não impõe limites à mãe, apenas se submete ao desejo simbiótico estabelecido pela mãe na relação com a criança.

Quais são as consequências para o desenvolvimento da personalidade da criança quando esta relação simbiótica entre a mãe e a criança não é rompida no momento certo? Essa relação se prolonga durante muito tempo, o processo de autonomia ocorre muito parcialmente ou não acontece, há uma fixação neste momento.

A dependência emocional é identificada em adultos na excessiva dificuldade de separação, normalmente não conhece seus dons e habilidades, a profissão escolhida não reflete seu desejo, têm relações muito misturadas, o cartão de crédito dele é compartilhado, ou melhor, misturado com gastos de outras pessoas. Enfim, uma infinidade de consequências todas relacionadas ao processo de autonomia que não se consolidou de modo saudável.

A psicoterapia ajuda o paciente a completar esse processo de autonomia, trabalhando os sentimentos de medo e dependência comuns desta fase. Mais fortalecido em sua autoestima consegue sustentar suas posições de vida, mesmo que contrarie desejos e expectativas alheias, sua vida se torna mais autêntica e mais conectada com suas verdadeiras aspirações.


Adriana Alves de Lima

Psicóloga Clínica e Hospitalar