Por lógica, qualquer pessoa acharia um absurdo uma mulher se olhar no espelho, perceber seu batom borrado e tentar corrigir o problema no espelho e não na própria boca.
No mínimo, irracional e improdutivo. Pasmem!
Muitas pessoas agem assim, o tempo todo, e nem percebem. Gastam energia, tempo,
dinheiro, expectativas e o resultado é frustrante.
A experiência clínica em Psicoterapia
transborda destes casos.
Pessoas, por exemplo, que se sentem
desvalorizadas, preteridas, ignoradas ou invisíveis, nos mais diferentes
contextos e situações: pessoais, profissionais ou sociais. Queixam-se de falta
de atenção dos filhos, de dificuldade em encontrar um parceiro afetivo, em
receber promoções, convites, etc.
Elegem como culpados de suas
insatisfações: o chefe, a época onde ninguém quer compromisso sério, os filhos
ensimesmados, a falta de tempo, etc. Todas as condições externas que não podem
mudar. Conclusão, tudo continua igual, na mesmice, apenas se repete a constante
insatisfação, há sofrimento. Em outras palavras, é a tentativa de corrigir o
batom borrado no espelho e não na própria boca.
Normalmente, quais comportamentos têm uma pessoa que se queixa de se sentir desvalorizada? São muitos, vou descrever alguns para facilitar a identificação:
a) A melhor louça que a pessoa tem em casa é para ela tomar um saboroso e elegante café? Não! Está guardada para visitas. E ela? Toma na xícara mais desgastada ou até lascada.
b) Uma
roupa de cama bonita e macia que adquire, também é para deixar para as visitas
ou para os filhos. Para ela, qualquer lençol manchado ou mais desgastado serve.
Isso também se aplica a roupa de banho.
c) Em
situações quando fica sozinha em casa, não faz uma boa refeição, afinal não vai
preparar o almoço “só para ela”. Para outras pessoas, faria.
d) Em
ocasiões onde se reúne com familiares ou amigos e eles perguntam, qual sabor de
pizza você quer? Ela responde: “o que vocês escolherem está bom para mim”.
e) Tem
uma enorme dificuldade em falar “não” para os outros, mas fala para si mesma
com frequência.
f) Há
um descuido com o sono, com a alimentação, com a própria satisfação sexual, em
investir tempo para estudar ou ler algo do próprio interesse.
g) Alguém
elogia a roupa que ela está vestindo e a resposta é: “Essa blusa é velha, tenho
faz tempo”, ou resposta semelhante onde mostra o desconforto em receber
elogios.
Conclusão: a própria pessoa se desvaloriza
o tempo todo e não percebe, se comporta como alguém que não tem vez e não
existe no mundo e depois se queixa que os OUTROS a depreciam, a ignoram. Não
percebe que precisa corrigir os problemas ou as distorções “na própria boca” e
não no externo. Este apenas reflete o que faz com ela própria.
Libertadora esta percepção, um ganho de
consciência incrível que agora a permite olhar para este lugar onde ela mesma
se deixou, em último lugar.
Ela pode mudar a si mesma, não o outro. Aqui começam as transformações e por consequência conquistará a valorização alheia com muito mais facilidade. Acertou o batom na própria boca, agora reflete outra imagem. Sofria pelo modo como era tratada, entretanto, estava inconsciente que se tratava assim, o melhor sempre era apenas para os outros!
Adriana Alves de Lima
Psicóloga Clínica e Hospitalar