A MISTURA DOS PAPÉIS DE MARIDO E MULHER / PAI E MÃE PREJUDICA O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DOS FILHOS


Bem antes de assumir os papéis sociais de marido e mulher / pai e mãe existem um homem e uma mulher que através de suas experiências, principalmente infantis, construíram suas próprias referências ⸺ saudáveis ou não ⸺ sobre os aspectos masculinos e femininos.

Alerto que para compreensão do tema é necessário limpar um pouco a mente, contagiada pelas hostilidades existentes sobre machismo e feminismo, estimuladas pela ideologia, que distanciam as pessoas e nublam o pensamento para uma observação da realidade, científica.

Sempre aprendi com pessoas inteligentes que para conhecer algo de verdade, é preciso observar a natureza, aquilo que é natural, ou seja, não foi feito pelo homem, logo, não está contagiado pelos interesses econômicos, políticos, materialistas ou afins.

Neste sentido o que mostra a natureza? Basta observar a biologia do corpo humano, que é natural, tem hormônios masculinos e femininos independente do gênero. Óbvio que um homem tem predominância de hormônio masculino, testosterona e, bem menor, quantidade de hormônio feminino, progesterona. E vice-versa. O equilíbrio entre as quantidades desses hormônios, no homem, ou na mulher, como a natureza assim os fez, é necessário para a saúde do corpo humano. Para a fecundação do óvulo, feminino, precisa do espermatozoide, masculino. FATO.

No desenvolvimento psicológico, a boa relação entre marido e mulher é muito importante para o amadurecimento mental e emocional dos filhos. Na vida prática, infelizmente, nem sempre isso ocorre porque estes pais portam consigo seus próprios problemas emocionais inconscientes, com suas respectivas figuras paternas e maternas. Na prática, a situação problemática ocorre do seguinte modo:

Primeiro, o casal está brigando, marido e mulher. O filho toma as dores da mãe, e assume posição contra o pai. O filho diz: “não grita com a minha mãe”.  Ela “feliz” porque encontrou um aliado reforça a criança: “Seu pai não vale nada, ele não liga para nós, filho, pensa apenas no trabalho dele”.

Segundo, agora inverte: O casal está brigando. A filha toma as dores do pai. Ele reforça a criança ou adolescente e diz: “Sua mãe não liga pra gente, saiu de casa, num sábado, para fazer compras no shopping e chega tarde desse jeito”.

Quais as consequências destes SUCESSIVOS acontecimentos ao longo do tempo?

No primeiro caso, o filho toma as dores da mãe e ela reforça. Quando faz isso, essa mãe INVALIDA os aspectos masculinos para o filho causando bloqueios paternos. A criança interpreta “papai não vale nada, logo os aspectos paternos que me nutriam e que eu admirava não valem nada”. Isso enfraquece a criança, principalmente na adolescência e vida adulta, na postura de arrojo e enfrentamento, mais característicos do masculino.

No segundo caso, o pai invalida aspectos do feminino ao dizer para a filha que a mãe não liga para eles, causando bloqueios maternos. A criança lê: “mamãe é ausente e não liga para nós”. Essa postura enfraquece a criança nas referências características do feminino em cuidar, acolher e reter.

Em ambas as posturas, a fala destes pais vem de um lugar de DOR das respectivas figuras parentais que agora REPRODUZEM na relação com os filhos. São as chamadas feridas paternas e maternas. Vão produzir uma série de problemas de relacionamentos e nas posturas de enfrentamento perante a vida.

Qual o comportamento mais saudável nesses casos?

O casal está brigando. A filha se envolve e toma partido a favor do pai e contra a mãe. O pai BEM resolvido emocionalmente diz: “filha! Respeite a sua mãe. Essa é uma discussão entre marido e mulher. Estou discutindo com a minha esposa. Você não tem que se envolver, você é filha. Vai brincar ou fazer suas atividades que estamos resolvendo problemas de adulto”.

O mesmo vale quando o filho toma partido da mãe e ela ENQUADRA o filho no lugar dele: “filho! Não admito que você desrespeite o seu pai, ele trabalha bastante para nos dar uma vida melhor. Vai cuidar das suas tarefas que estamos resolvendo problemas de adulto”.

É outro nível de saúde mental! As figuras paternas e maternas ficam blindadas para as crianças e não perturbam suas referências, tão importantes para o desenvolvimento mental e emocional dos filhos. Esse tema é muito amplo. Existe, também, há algum tempo, um ataque maciço e constante através de filmes e séries numa infantilização do masculino, homens-meninos. É um grande problema porque ao enfraquecer o masculino, enfraquece também o feminino. Os dois fazem parte de uma mesma polaridade, logo o desequilíbrio afeta as duas referências. Não há ganhadores.


Adriana Alves de Lima

Psicóloga Clínica e Hospitalar