HISTÓRIAS PSICOLÓGICAS: RELAÇÕES ADOECIDAS ENTRE OS COGUMELOS


Era uma vez um grupo de cogumelos. Estes viviam numa linda floresta. Um cogumelo um pouco maior estava plantado no centro e outros ao redor dele.

Era perceptível que o cogumelo maior estava bem desvitalizado, com uma cor apática e tombando para o lado direito. Um coelho, habitante da floresta, se aproxima do cogumelo maior e pergunta:

O que está acontecendo com você cogumelo?

⸺  Como assim o que está acontecendo comigo?

Coelho: Você está pálido, está torto como se carregasse um peso, está tombando para o lado direito.

Cogumelo: Sério? Nem percebi, estou tão ocupado cuidando de todos esses cogumelos que estão ao meu redor que nem tive tempo de olhar para mim. Sinto sim, muito cansaço, estou acima do peso e estou sempre exausto, acho que me acostumei a me sentir assim, desvitalizado e ocupado. Obrigado, por me alertar, por me ajudar a perceber minha situação física e emocional.

Coelho: Nenhum destes cogumelos que se relacionam com você perceberam seu estado?

Cogumelo: Não. Eles me veem como provedor físico e emocional deles. É uma relação de subtração, não é de troca.

Coelho: Certo, você me disse que foi bom eu olhar para você, lhe ajudou a se perceber. Foi um bom começo. Agora que está mais consciente de sua situação física e emocional, é hora do próximo passo: se perguntar porquê está nesta posição de quem dá muito nos relacionamentos e recebe pouco ou nada. A única situação que justifica um funcionamento deste seria se esses cogumelos fossem seus filhos crianças.

Nesta fase, realmente, eles precisam apenas receber. Sei que aqui não é o caso. Esses cogumelos ao seu redor são adultos. Logo, as relações devem ser equilibradas, ambos os envolvidos somarem nos relacionamentos. Em síntese, um ajuda o outro. Esse é um funcionamento saudável entre adultos.

Cogumelo: Eles se nutrem da sombra que eu ofereço para eles e dos nutrientes das minhas raízes. É uma relação obsessiva.

Coelho: É importante que você não se sinta vítima nesta dinâmica de relacionamento. Caso contrário, sentirá muito ódio dos cogumelos ao seu redor e ainda impotente para mudar. Você precisa assumir sua parte da responsabilidade nesta história. Essas relações adoecidas foram construídas com o consentimento de todos os envolvidos, inclusive o seu, mesmo que inconscientemente. Você permitiu até então, pode a partir de agora, não permitir mais. Assuma seu poder pessoal e de comando!

Cogumelo: Eu me sinto culpado se não ajudá-los. Eles reclamam.

Coelho: A culpa é um sentimento que mantém você aprisionado nesta dinâmica. Em torno deles, há tudo que precisam, podem se esforçar para resolver os próprios problemas, desenvolver mais resiliência diante do sol, esticar as raízes para buscar mais água. Vão crescer. Ajudá-los a serem mais independentes é um ato de amor. Você está sobrecarregado e eles acomodados. Não é saudável essa vida de relação.

Cogumelo: Será que se eu cortar todas as vantagens que lhes ofereço continuarão ao meu lado?

Coelho: E você acha que tem alguém ao seu lado verdadeiramente nestas relações adoecidas?  Você está quase tombando de tão sugado e ninguém veio perguntar se você está bem.

Cogumelo: É verdade!

Coelho: Mude VOCÊ, alguns cogumelos realmente ficarão bravos por você se recusar a satisfazer as necessidades deles, outros mudarão daqui, provavelmente para parasitar outros cogumelos. E está tudo bem. Você não pode mudá-los. Pode mudar VOCÊ. E outros cogumelos, poderão sim ressignificar a relação com você de adoecida para saudável, onde todos se ajudam e comemoram juntos muitas conquistas. Você saberá apenas depois que mudar seus comportamentos. Administre o seu medo. As mudanças abrirão espaço para relações mais verdadeiras e satisfatórias. Não adianta apenas você mudar de floresta para se afastar dos cogumelos parasitas. Parte deste funcionamento é seu e senão mudá-lo repetirá na relação com outros e novos cogumelos. 

Cogumelo: Muito obrigado, por me enxergar e me ajudar a refletir sobre as mudanças que preciso fazer. Vou começar agora mesmo essas transformações, antes que eu tombe de vez.


Adriana Alves de Lima

Psicóloga